Pesquisar este blog

domingo, 18 de outubro de 2009

Medo

"Perder o medo é se atirar no escuro, enfrentando o desconhecido."


(Léa Waider )


O medo. Troço ruim de enfrentar. Difícil também. Sou uma criatura ansiosa e cheia, cheia de medos. Quando criança tinha medo de chegar atrasada na escola. Muitas vezes dormia de uniforme pra não perder a hora.

Pois bem. Eu tinha medo de nunca conseguir engravidar. Pouco tempo depois de tomada a decisão, descobri-me grávida. Tão ansiosa que sou, peguei meu positivo no laboratório cinco dias depois do atraso menstrual. Por que fui ao laboratório naquele dia? Por medo. Eu já sabia que estava grávida graças a um teste positivo de farmácia. Mas estava sentindo um pouco de cólica e tive???... medo.

Quinta tive um pequeno sangramento, mínimo, e corri pro hospital. Devo confessar que tive, aí, medo de verdade. Chorei muito, pensei que o sonho acabaria ali. Fiquei desde então em repouso absoluto. Felizmente a situação cessou. Ótimo! Mas os medos? Não, não acabaram.

Eu consigo pôr mil e uma caraminholas na cabeça. Tenho medo de, chegando amanhã no hospital, algo estar errado. Medo da contagem do beta ser inadequada pro tempo gestacional. O médico pediu que fizesse uma ultrassonografia esta semana, mas tenho medo de nada ser visto (não por estar no início da gestação, mas por algo estar errado). Temo até por não estar enjoando, vomitando ou com náuseas, por saber que a grande maioria das gestantes têm isso, que é normal e promovido por hormônios que protegem a gravidez. Tenho medo que algum alimento que eu ingira me faça mal. Que prejudique o bebê.

Tenho medo de, seguindo-se a gestação, eu tenha um problema qualquer, um sangramento, perda de líquido, precise de algo como cerclagem. Tenho medo de um trabalho de parto prematuro. Tenho medo de algo dar errado na hora do parto. Nem é medo de sentir dor, mas de haver sofrimento fetal ou algo assim.

Por que estou revelando todas essas angústias? Falando de todas essas ansiedades? Porque não aguento mais guardar essa aflição toda dentro de mim. Não suporto mais me sentir tão incapaz. Sim, me sinto incapaz... pensava, toda hora, que não seria capaz de engravidar... agora, fico com a sensação absurdamente desconfortável e dolorosa que não sou capaz de gestar. Quando não, penso: posso até gestar, mas não vou conseguir parir.

Não faço faço a mínima ideia de qual seja a origem desses pensamentos, desses sentimentos devastadores. Também não sei como distruí-los. Talvez a pista pra eliminá-los seja o que está escrito na frase que escolhi pra abrir meu texto: aprender a lidar com o desconhecido. Curiosamente, tenho medo do escuro (oh!). Atirar-me no escuro (literal ou não), no desconhecido, não é nada fácil pra mim. Me sinto aprisionada, limitada pelos medos com os quais preciso lidar (e não sei).

Hoje decidi que vou tentar não me preocupar. Pelo menos tentar. Preocupar. Ocupar antes do tempo, né? Do que adianta sofrer agora se algo for dar errado no futuro? E olha que, na maioria das vezes nem dá errado! Melhor ainda, né? Mas e se der? Sofrer antes da hora resolve? Adianta? Não! Hoje vou pelo menos tentar acreditar mais em mim.

2 comentários:

Nanda disse...

Anninha, medo é normal. Eu tenho medo de pessoas que não tem medo. Rubem Alves colocou o que eu penso melhor do que eu jamais poderia, compartilho aqui com você:

Somos iguais aos animais, em que as mesmas coisas terríveis podem acontecer a eles e a nós. Mas somos diferentes deles porque eles só sofrem como se deve sofrer, isto é, quando o terrível acontece. E nós, tolos, sofremos sem que ele tenha acontecido. Sofremos imaginando o terrível. O medo é a presença do terrível-não-acontecido, se apossando das nossas vidas. Ele pode acontecer? Pode. Mas ainda não aconteceu e nem se sabe se acontecerá.

Curioso: nós, humanos, somos os únicos animais a ter prazer no medo. A colina suave não seduz o alpinista. Ele quer o perigo dos abismos, o calafrio das neves, a sensação de solidão. A terra firme, tão segura, tão sem medo, tão monótona! Mas é o mar sem fim que nos chama: “A solidez da terra, monótona, parece-nos fraca ilusão. Queremos a ilusão do grande mar, multiplicada em suas malhas de perigo...“ (Cecília Meireles).

A pomba, que por medo do gavião, se recusasse a sair do ninho, já se teria perdido no próprio ato de fugir do gavião. Porque o medo lhe teria roubado aquilo que de mais precioso existe num pássaro: o vôo. Quem, por medo do terrível, prefere o caminho prudente de fugir do risco, já nesse ato estará morto. Porque o medo lhe terá roubado aquilo que de mais precioso existe na vida humana: a capacidade de se arriscar para viver o que se ama.

O medo não é uma perturbação psicológica. Ele é parte da nossa própria alma. O que é decisivo é se o medo nos faz rastejar ou se ele nos faz voar. Quem, por causa do medo, se encolhe e rasteja, vive a morte na própria vida. Quem, a despeito do medo, toma o risco e voa, triunfa sobre a morte. Morrerá, quando a morte vier. Mas só quando ela vier. Esse é o sentido das palavras de Jesus: “Aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á. Mas quem perder a sua vida, a encontrará.“ Viver a vida, aceitando o risco da morte: isso tem o nome de coragem. Coragem não é ausência do medo. É viver, a despeito do medo.

Houve um tempo em que eu invocava os deuses para me proteger do medo. Eu repetia os poemas sagrados para exorcizar o medo: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum...“ “Mil cairão à tua direita, dez mil à tua esquerda, mas nenhum mal te sucederá...“ A vida me ensinou que esses consolos não são verdadeiros. Os deuses não nos protegem do medo. Eles nos convidam à coragem de viver a despeito dele.

Anne disse...

Adorei, Nanda! Adorei!!! =)