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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Mamãe + amar = MAMAR

Na minha concepção, antes de ser mãe, amamentar seria um ato institivo, automático. Bebê nasce, você põe no peito e ele mama do jeitinho certo. Simples assim! Afinal todos os outros mamíferos não fazem assim? Gatinhos, cachorrinhos, girafas, elefantes, morcegos e ornitorrincos. Todos eles - os filhotes deles - nascem e mamam. Não, eu nunca vi um morcego ou ornitorrinco mamando não, mas se eles não soubessem como fazer isso já estariam extintos, capice?

Então, logo que minha filhota nasceu, como é praxe nos hospitais, ficou um pouquinho perto de mim e logo foi levada pros procedimentos de rotina: pesagem, medições, injeções, remédios, banho... toda essa agressão que eu não tive peito pra recusar e me arrependo até agora. Como ela nasceu num apartamento especial do hospital,  chamado de PPP (sigla de pré-parto, parto e puerpério), todos os procedimentos foram feitos ali, junto de mim. 

Minutos depois dela ter sido levada dos meus braços, mas ainda sob meu campo de visão, perguntei: quando ela vai mamar, hein? A resposta foi um "daqui a pouco" um tanto impaciente, proferido, acho, pela pediatra neonatologista. O fato é que eles se apressaram e minha pequena veio mamar antes de meia hora depois do nascimento. Maravilha, né? Nem tanto... Já explico o porquê.

Primeiro a pediatra olhou pros meus seios e proferiu um "não gostei do teu bico". Hã? Como assim, cara pálida? Quem vai mamar, tu ou minha neném? Bem, eu fiquei tão desconcertada com a afirmação da tal senhora que perdi o rebolado. Fiquei mesmo sem resposta (hoje eu saberia bem o que dizer, mas naquela ocasião fiquei com a cara mexendo). Que desserviço, né? Ela, como profissional, deveria sabe que é o bebê quem faz o bico conforme mama. Mas sigamos, vamos adiante.

Eu pensava que o bebê aproximava-se calma e lentamente do peito e mamava ternamente. Ah, ah, ah! Ela veio voraz!!!! Reflexo, né? Instinto de sobrevivência. E a senhora pediatra, em lugar de ajudar, ficava enfiando a mão e repetindo que não gostou do meu bico. Ninguém merece! O fato é que a pequena conseguiu mamar. Se o que chamam de pega estava correta? Não sei. A profissional que deveria me orientar não me falou nada sobre isso. Ela só sabia me dizer que não gostou do meu bico, ai, ai, ai!

Primeira madrugada da minha filha no hospital: muito choro, muito, muito choro! Ela pegava o peito, tentava sugar. Não saia nada, ela chorava. Também, pobrezinha, estava mamando da maneira incorreta. Eu sabia que tinha colostro, eu vi, mas acho que ela não conseguia sugá-lo. Junta-se a fome, a vontade de comer e o processo de adaptação ao mundo e o resultado da equação é bebê chorando muito na sua primeira madrugada de vida. 

Depois de ver o sol nascer a pequena dormiu. Desconfio, hoje, que ela dormiu de tão exausta que ficou. Eu também estava exausta, mas não preguei o olho. Além do cortisol que corria em meus vasos sanguíneos me fazendo ficar alerta, havia também a excitação pela volta pra minha casinha!!! Eba, agora sim minha pequena vai mamar e descansar, bem como a mamãe (não, a mamãe não vai mamar, só descansar). O que? Mamãe nem mamou - nem era o caso, hehehe - e nem descansou: mais uma noite de muito chorinho da pequena. 

Eis que três dias depois do nascimento da minha preciosa, deu-se a apojadura - a famosa descida do leite. Mas, mesmo com leite enchendo o peito, ela chorava muito, urinava pouco e meus seios estavam em frangalhos, cheios de fissuras (uma delas abriu e tenho uma cicatriz pra provar que é verdade). Fiquei tão desesperada! Pra mim uma coisa não tinha nada a ver com a outra. Eu cheguei a pensar uma dessas coisas mirabolantes que mãe de primeira viagem pensa: minha filha está com insuficiência urinária ou algo do tipo. Que nada, a bichinha estava era com fome e sem saber mamar. 

Mas como, como é possível um mamífero não saber mamar? 

Pausa pra eu tentar explicar: os mamíferos todos que existem na natureza mamam sem maiores problemas porque suas mães são deixadas em paz pra parir e amamentar. As crias buscam o peito de sua mãe. Eles não são afastados ao nascer. Eles seguem seus instintos, mãe e filho/s. Mas o humano mexe demais na coisa, vem um e leva o bebê pra pesar, vem outro e leva pra vestir, outro leva pro berçário (a minha não foi, mas vários vão) e deixam a mãe sozinha "pra descansar". E a mãe toma banho, se lava, põe perfume. E o bebê é lavado. E cadê o cheirinho dos dois? Desceu pelo ralo, literalmente! Tem instinto que sobreviva? Ah - você pode pensar - mas tem bichinho que nasce com a ajuda humana. Tem sim. Mas e você nunca ouviu ninguém dizer que a cadelinha de fulano "rejeitou" a cria? Vai ver que é por conta de intervenções desnecessárias (ou pelo menos fora de hora). Aliás, eu já vi cachorrinho nascer de cesariana, mas a veterinária não deu banho nos filhotes não! Disse que a cadela precisava lamber a cria pra não rejeitá-la. Será que isso tem algo a ver com a depressão pós-parto humana? Bem, deixa eu despausar porque tem coisa que é achismo meu, minha mente vai longe as vezes. Mas que faz sentido, ah faz!

Pois bem, fui a um dos bancos de leite da minha cidade, o da Maternidade Escola Santa Mônica. Ai, que maravilha! Fui muito bem atendida por uma pessoa bem instruída, paciente e cordial, que disse que amamentar não tem que doer. Que fissuras são comuns, mas não são normais. Disse que o ato de amamentar deve ser prazeroso, pois faz com que o corpo produza hormônios que promovem o bem-estar. Dá-lhe ocitocina! Me ensinou a ordenar, a reconhecer a pega correta, a dar banho de sol ou de luz na mama e explicou que o melhor remédio pra fissuras é o próprio leite. 

Depois dessa primeira consulta ainda voltei lá por mais duas vezes em menos de 15 dias. Minha filhotinha estava aprendendo a mamar direitinho, mas como todo recém-nascido, vivia grudada no peito que, coitadinho, não cicatrizava por causa disso. Devido a fissura no seio esquerdo fiquei 5 dias ordenhando o leite dele e oferecendo a ela de copinho. É, copinho sim! Daqueles de vidro, de aperitivo, sabe? Daqueles de 50ml, pequeninos e baratinhos. Oferecer numa chuquinha não seria mais fácil? Ô, seria! Inclusive pra ela. Mas aí é que mora o perigo: ela poderia facilmente desmamar. Então a recomendação do banco de leite foi oferecer o leite no copinho. Tão bonitinho ela tomando leite no copinho, até fotografei. Mas é mais fácil e mais acolhedor o peito, com certeza!

Não deu pra segurar muito tempo ordenhando leite e dando no copinho não. A ordenha tinha que ser feita no máximo a cada duas horas; na madrugada ainda dava pra deixar por umas cinco horas. Mas aí eu tinha que acordar mais cedo do que a pequena pra poder ordenhar o leite. E, veja, recém-nascido já dorme poucas horas seguidas, como assim acordar antes dela? Então decidi oferecer o seio do jeito que estava mesmo. Doeu, ai, doeu! Mas não demorou a cicatrizar, uma vez que a pega já estava certinha e eu estava fortalecendo o bico com banhos de luz (minha filha nasceu no inverno, não dava pra dar banho de sol). 

Bem, depois disso foi só alegria! Minha pequena recuperou logo o peso perdido (recém-nascidos perdem cerca de 10% do seu peso quando nascem, recuperando em cerca de 15 dias) e hoje, com menos de quatro meses, já está com mais que o dobro do peso que tinha ao nascer. Tá uma linda bochechuda. Só mama, exclusivamente e em livre demanda. Nunca, em nenhum momento, mesmo com os seios machucados, deixei de dar o meu leite sempre que ela requisitou. E ela requisitou -e solicita ainda - muito, viu?

Agora a amamentação está indo de vento em popa! Bem estabelecida, na hora e do jeito que ela quer. Hoje em dia ela só acorda uma vez na madrugada pra mamar, as vezes duas, as vezes nenhuma. Quando ela está muito carente - de contato e de leite - deixo ela do meu ladinho na cama e ela mama o quanto quer, sentindo meu cheiro e meu calor, exatamente como todos os mamíferos dormem com suas mães. Chamam isso de cama compartilhada, eu chamo de ninho! 

E até quando ela vai mamar? Eu achava que seis meses seria o suficiente, tava bom demais. Depois eu fui lendo, estudando e me convencendo que é bem importante mamar até o segundo ano de vida, conforme recomenda a Organização Mundial de Saúde e o Ministério da Saúde. E depois eu me dei conta que é bem mais legal deixar as coisas fluírem, deixar acontecer naturalmente. Desmame natural. Eita, isso é bem polêmico também, né? 

Se eu vou conseguir? Não sei, mas pretendo! Felizmente tudo o que tenho planejado sobre o meu jeito de maternar tem dado certo. Nem sempre do jeitinho exato que imaginei, mas tem fluído, tem seguido. Foi assim com a gestação, com o parto, com a amamentação (até agora exclusiva e em livre demanda), com a cama compartilhada, banho de balde, sling e todas essas coisinhas que acho bacana e importantes. 

Quero amamentar até enquanto minha filha quiser. E volto pra contar como foi, combinado? Espero que isso ocorra só daqui a uns anos, pelo menos uns dois...


3 comentários:

Anônimo disse...

Seguindo!!!

Beijos da tua doula!!

Liliane disse...

Adooooooooooooooooro ler vc! Já te falei que se um dia Deus me der a bênção de engravidar vc será minha doula virtual né? Tá de pé ainda! rs
Bjsssssssss

Tali disse...

Leitura excelente! Belas palavras Anne! ;)